sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Metas de Sustentabilidade para os Municípios Brasileiros são ofertadas a candidatos a prefeito

Lançado dia 23/8, material contém metas e indicadores de referência para auxiliar os futuros prefeitos a colocar em prática uma agenda de desenvolvimento sustentável em suas cidades
Airton Goes airton@isps.org.br
Os candidatos a prefeito de cidades de todo o país têm agora à disposição uma nova publicação que poderá ser muito útil, em caso de vitória nas eleições, para que implementem a agenda do desenvolvimento sustentável em suas cidades. Trata-se do material Metas de Sustentabilidade para os Municípios Brasileiros, que foi lançado dia 23/8, na capital paulista, pela Rede Nossa São Paulo, Instituto Ethos e Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis.
A publicação integra o conteúdo do Programa Cidades Sustentáveis, que foi elaborado pelas três organizações e está sendo apresentados a pretendentes a cargos de prefeito, dirigentes partidários e representantes da sociedade civil em muitas cidades brasileiras.
Nas 70 páginas do material, estão indicadores e metas de referência de 12 eixos relacionados ao desenvolvimento sustentável dos municípios. No eixo Bens Naturais e Comuns, por exemplo, tem o indicador Área verde por habitante. Segundo o documento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 12 metros quadrados de área verde por habitante. Entre as metrópoles que possuem os melhores indicadores neste item estão Estocolmo, na Suécia, com 86 m2, e Oslo, na Noruega, com 52 m2.
Outra meta sugerida na publicação é zerar as mortes por homicídio de jovens de 15 a 29 anos, que está no eixo Equidade, Justiça Social e Cultura de Paz. Islândia, Cingapura e Luxemburgo já conseguiram atingir essa meta de referência. O item cita ainda a cidade de Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo, onde o Plano Municipal de Segurança desenvolvido desde 2001, com a participação da população, conseguiu reduzir em 60% esse tipo de ocorrência.
O objetivo das organizações promotoras da iniciativa é que os candidatos a prefeito que assinaram ou que venham a assinar a carta compromisso do Programa Cidades Sustentáveis utilizem o material disponibilizado para fazer um diagnóstico de seus municípios e estabelecer um Plano de Metas da gestão, tendo como foco a sustentabilidade.
Durante o evento de lançamento da publicação Metas de Sustentabilidade para os Municípios Brasileiros, realizado no Sesc Consolação, o coordenador da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, informou que, até o momento, cerca de 550 candidatos de 330 municípios brasileiros já se comprometeram com o Programa Cidades Sustentáveis. Além dos pretendentes ao cargo de prefeito, cinco partidos políticos assumiram compromisso com a plataforma em nível nacional: PPS, PT, PSOL, PV e PDT. “Isso, graças ao empenho de tantas organizações da sociedade civil engajadas nesta causa”, agradeceu ele.
Grajew alertou para o fato de o modelo de desenvolvimento atual estar esgotando o planeta. “O que estamos propondo é uma mudança do modelo e oferecemos todas as ferramentas necessárias para que isso possa acontecer”, argumentou, referindo-se ao Programa e à publicação lançada.
Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, destacou que a motivação das organizações envolvidas no programa é valorizar a política. “Temos que buscar um retorno aos conteúdos. Queremos que a política não seja reduzida a uma campanha de marketing ou à captação de recursos, pois isso tem afastado as pessoas.”
Segundo ele, todos os atores sociais estão diante de um desafio. “Vivemos um momento em que falar em desenvolvimento sustentável é estabelecer novas relações entre cidadãos, partidos políticos, candidatos e empresas.”
Carolina Evangelista, da Fundação Avina, e Pedro Leitão, do Instituto Arapyaú, – organizações apoiadoras da iniciativa – também participaram do lançamento da publicação, que foi apresentada pelo coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi.
Clique aqui para ver a apresentação do material
Em seguida, os prefeitos de Paragominas (PA), Adnan Demachki, e de Maringá (PR), Silvio Barros, fizeram rápidos relatos das experiências exitosas de seus municípios. “Por algumas décadas, o desenvolvimento da minha cidade ficou ligado a desmatamento”, lembrou Demachki. Em 2008, foi celebrado o Pacto Pelo Desmatamento Zero. “Um ano antes, houve 300 quilômetros de desmatamento no município. Esse número caiu para 1,5 quilômetro”, destacou o prefeito de Paragominas.
Para ele, o grande segredo do sucesso da iniciativa “não foi passar um projeto goela abaixo da sociedade, mas estabelecer um pacto com ela”. Demachki registrou que em 2007 ainda não havia o Programa Cidades Sustentáveis, para, em seguida, recomendar: “Hoje se eu fosse candidato [a prefeito], seria o primeiro a assinar”.
Silvio Barros, prefeito de Maringá, contou que em sua cidade a mudança começou com o Movimento Repensando Maringá, que resultou na criação do Codem (Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá). “Atualmente, todos os candidatos a prefeitos passam pela sabatina do Codem.”
O Programa Cidades Sustentáveis já foi lançado em Maringá e lá os oito candidatos a prefeito assinaram o compromisso com a plataforma.
Outro convidado do evento, o jornalista André Trigueiro, apresentou dados preocupantes sobre o saneamento básico no país. “Menos de metade dos municípios brasileiros fazem coleta de esgoto. E do que é coletado, apenas 40% recebe algum tipo de tratamento. Isso é uma vergonha!”, declarou.
Para ele, as experiências contidas no Programa Cidades Sustentáveis merecem ser vistas. “Botar a assinatura aqui [na carta compromisso] é um ato de bravura e de inteligência”, defendeu, dirigindo-se aos candidatos a prefeito.
Presidente da Associação Brasileira de Municípios assina compromisso
No evento, o presidente da Associação Brasileira de Municípios (ABM), Eduardo Tadeu, assinou a carta compromisso do Cidades Sustentáveis. “É nas cidades que as coisas acontecem. E o que estamos falando aqui é a transição de um modelo baseado na economia para o modelo sustentável, que precisamos”, disse. De acordo com ele, a ABM se coloca como parceira para melhorar as gestões municipais. “Ajudar a capacitar os gestores e gestoras das administrações depois das eleições”, exemplificou.
Também participaram da atividade o prefeito de Osasco (SP), Emídio de Souza, que representou a Frente Nacional de Prefeitos, o secretário nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos, Leodegar Tiscoski, que representou o Ministério das Cidades, e Vicente Andreu, que representou o Ministério do Meio Ambiente.
“A ministra [Izabella Teixeira] me pediu para reinterar o apoio e a importância que ela dá ao Programa Cidades Sustentáveis”, afirmou Andreu. Ele reclamou do fato de as cidades estarem ausentes, até o momento, do debate sobre o novo Código Florestal Brasileiro. “Queria fazer um pedido aos prefeitos e suas instituições, para que fortaleçam uma agenda que tem relação com o compromisso que estamos debatendo aqui”, propôs.
 

Dia do Basta!

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Exerça sua cidadania em pról de um mundo melhor!
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É bem fácil que os polícos com inveja, desejem criar o
Dia dos Bostas!



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Manifesto Ecológico 2012

Nestes tempos de rápidas e incertas mudanças, onde o homem dispõe de recursos da mais alta tecnologia da informação, que os aproximam cada vez mais de longínquas localidades, somam-se avanços científicos produzindo coisas maravilhosas que facilitam a vida moderna e cura doenças que há pouco tempo atrás causava pânico; ao mesmo tempo, pela contramão de tudo isso, flui forças que arrastam este mesmo homem a aberrações terríveis os arremetendo a época das cavernas. Isto causa medo e afasta cada vez mais do real valor da vida. O homem moderno é um homem que tem medo. Medo do desconhecido que ele é, e medo do que ele poderá vir a ser.
O desenvolvimento humano que anda a passos de cavalo, infelizmente não acompanha o tecnológico, que voa a turbinas de foguete.
Este homem, na ânsia de preencher seu vazio existencial, busca o poder. O poder do dinheiro, da fama, do conhecimento, da beleza, da eterna juventude... Mas o poder é transitório e lhe escapa entre os dedos, como uma ilusão criada em uma imagem holográfica, onde ao se atingir aquele ponto nuclear de maior concentração da força, cria-se outra ilusão de poder em sucessões infinitas. Passa-se a vida toda correndo atrás do poder que lhe conferirá o pseudo domínio de tudo, sem se dar conta do desconhecido que o habita. E assim vai acumulando coisas, se empanturrando de vícios sem saciar a sede da insatisfação, tornando-se um voraz consumidor de coisas da Terra. Ao assumir tal conduta, separa-se da rede das relações que existe no habitat em que vive, como que se fosse uma parte isolada do todo e não fizesse parte da teia da vida que a tudo e todos interliga. Esta é a pior das ilusões! Assim pensando, ele come a Terra, ou seja, explora, depreda, polui o meio ambiente como se este fosse sua propriedade. Não consegue perceber que é preciso ser “um consumidor” racional.
No ritmo que vão as coisas a passos largos, daqui a algum tempo, as matérias primas das quais fabricamos os objetos e coisas se esgotarão. Não haverá alimentos para todo mundo. Muitas de nossas bacias de águas já estão contaminadas e muitas secaram. Imensas áreas de florestas já foram desmatadas e são queimadas todos os dias. Muitas espécies de animais se extinguiram; e aqui podemos incluir até as tribos indígenas do planeta todo, pois o homem também é um animal, lembram-se disto? Este é um processo continuo que não para, está acontecendo neste exato momento!
Paremos um pouco e refletimos nas catástrofes ocorridas nestes últimos anos; até quando fechar os olhos e fingir que não tem nada a ver com a exploração e degradação ambiental? Catástrofes ambientais não são somente as que anunciam na TV como as enchentes, tufões, furacões, terremotos, derretimento da calota polar, efeito estufa etc e tal, mas também as diferenças sociais que tem produzido milionários de um lado e famintos do outro. Quando comparamos um homem de um país do primeiro mundo qualquer com outro esfomeado e doente em pele e osso da África, o que vemos? São seres semelhantes ou dês-semelhantes? O homem, ou seja, nós somos produtores de catástrofes. Roubamos e profanamos nosso verdadeiro lar, negando nossa descendência com a natureza e pisando naquele que chamamos de irmão para galgar um degrau a mais na escalada da vida... Isto tem nome, chama-se ganância!
O que estamos fazendo para melhorar tudo isto? Se não for dado o primeiro passo, por cada um de nós, não dará mais tempo para alcançarmos um ponto de equilíbrio. Precisamos fazer a dês-inversão dos valores que a publicidade nos faz, ou seja, faz crer que a felicidade está no consumismo, no ter e nos afasta do Ser. Precisamos nos resgatar do esquecimento de que somos parte integrante de todos os ecossistemas e existimos todos juntos e não isolados; que fazemos parte da mesma respiração do sopro da vida e que tudo que afeta você, também me afeta e afeta a planta, o rio, o peixe, o animal... Paremos de nos isolar!
Mais que nunca, precisamos fazer uso racional dos recursos naturais antes que seja tarde demais. É preciso mais que nunca consumir somente o necessário, ou seja, comer somente o necessário, beber somente o necessário, comprar somente o necessário, por que o que está em jogo é a vida! A vida que vamos dar aos nossos semelhantes do futuro!

Arlindo Cesar Bonassa
(Pos-graduando Educação Ambiental e Sustentabilidade – UNINTER)

sábado, 4 de agosto de 2012

A IMPORTÂNCIA DA FAUNA NA DINÂMICA DAS FLORESTAS

Bem pessoal, como iniciei minha pós-graduação em Educação Ambiental e Sustentabilidade nesta semana (Universidade Internacional de Curitiba - Uninter), gostaria de partilhar com vocês este excelente artigo que encontrei na biblioteca virtual, que infelizmente por estar fora do circuito acadêmico a maioria da população brasileira não tem acesso. Ele é um pouco extenso, mas vale a pena investir seu tempo nesta leitura, pois é um banho de preciosas informações sobre nossa rica fauna. Boa leitura! (Tatu).
 
26.07.2004 | Fonte de informações: Pravda.ru

A fauna atua de forma crucial na manutenção e restauração dos ambientes naturais, principalmente nas florestas tropicais, onde cerca de 90% das espécies vegetais arbóreas têm suas flores polinizadas e suas sementes dispersas por animais (as florestas tropicais se destacam pelo grande número de espécies vegetais, muitas vezes superiores a 100 espécies arbóreas por hectare). Os principais polinizadores são as abelhas, vespas, mariposas, borboletas, besouros, morcegos e beija-flores. A dispersão das sementes está associada em muitos casos à interação com aves e mamíferos, ao que chamamos de zoocoria, e diversos levantamentos realizados em matas ciliares (matas adjacentes aos riachos, rios, lagos e nascentes), têm mostrado alta predominância de zoocoria destas espécies. Estas espécies de animais e vegetais se encontram organizadas, através de cadeias químicas alimentares, interagindo na polinização e dispersão.

A dispersão de sementes é um processo que consiste na separação das sementes da planta-mãe indo até um local apropriado para o seu estabelecimento, levadas pelo vento (anemocoria), pela água da chuva ou de um curso hídrico (hidrocoria), conduzidas por algum animal (zoocoria), ou simplesmente destacada da planta através da força da gravidade (autocoria). Estas sementes poderão permanecer no solo por um longo período, formando o chamado "banco de sementes". É o que acontece geralmente com as espécies “pioneiras”, que são as primeiras árvores a se reestabelecerem em um ambiente degradado ou numa abertura natural de clareira na floresta, ocasionada pela morte e queda de uma ou mais árvores. O choque térmico ocasionado pela variação da temperatura e a incidência de luz direta no solo, fará com que haja a “quebra da dormência” destas sementes, ou seja, que se iniciem as primeiras reações químicas fundamentais para o processo germinativo.
A estrutura, o crescimento e a sobrevivência destas árvores são afetados de diversas formas pelo fator iluminação. A fotossíntese é afetada pela quantidade e qualidade da luz. As durações do dia e da noite são outros fatores que influenciam no desenvolvimento destas árvores, cujo principal objetivo é a cobertura imediata do solo, proteção da camada superficial de matéria orgânica existente, e dar início ao processo conhecido como “sucessão ecológica”, até o reestabelacimento da floresta.
As espécies arbóreas pioneiras mais conhecidas no Brasil são o capixingui (Croton floribundus), bracatinga (Mimosa scabrella), sangra d'água (Croton urucurana), tapiá (Alchornea triplinervia), candiúba (Trema micrantha), gravitinga (Solanum spp), manacá da serra (Tibouchina mutabilis), jacatirão (Miconia spp), capororoca (Rapanea ferruginea), as embaúbas (Cecropia spp), as pindaíbas (Xylopia spp), todas com características muito semelhantes, de grande exigência por luz, rápido crescimento e ciclo de vida curto (muitas vezes menos de 10 anos). A dispersão das sementes destas árvores é geralmente feita por animais (cerca de 74% das espécies vegetais tropicais), pois possuem geralmente frutos carnosos, frutificação precoce, abundante e quase que o ano todo.
Algumas sementes podem de imediato iniciar o processo germinativo, formando o "banco de plântulas", o que acontece com as espécies arbóreas conhecidas como “oportunistas”, pois estas permanecerão por determinado tempo em estágio de plântula, até um momento oportuno para o seu desenvolvimento, como uma abertura de clareira na floresta, com a queda de uma árvore, que fará com que haja maior incidência de luz no interior da floresta, o que favorecerá o seu desenvolvimento. As sementes das árvores oportunistas germinam na sombra, mas estas necessitam de luz para se desenvolverem.
As espécies oportunistas possuem um ciclo de vida mais longo, e sucedem as pioneiras, mas ao contrário destas, possuem um maior número de espécies, sendo que muitas destas têm a dispersão das sementes feita pelo vento. Mesmo assim, a dispersão zoocórica neste grupo ainda é bastante elevada (cerca de 69% do total das espécies). A maioria das espécies arbóreas tropicais fazem parte deste grupo, como o açoita cavalo (Luehea divaricata), dedaleiro (Lafoensia pacari), canafístula (Peltophorum dubium), pau brasil (Caesalpinia echinata), paineira (Chorisia speciosa), os cedros (Cedrela spp), araribás (Centrolobium spp), angicos (Anadenanthera spp), guatambus (Aspidosperma spp), embiruçus (Eriotheca spp), jequitibás (Cariniana spp) e os coloridos ipês (Tabebuia spp), muito comuns dos cerrados e das florestas brasileiras.
Ainda existe o grupo das espécies arbóreas “climácicas”, que fazem parte do último estágio da sucessão ecológica. Estas espécies possuem crescimento lento, porte elevado (ocupam o estrato mais alto da floresta, conhecido como dossel, com árvores atingindo até 60m de altura), são longevas (algumas árvores conseguem viver por mais de 200 anos), e possuem sementes geralmente grandes e com dormência, e por isso a sua dispersão por aves e mamíferos é muito importante (cerca de 85% do total das espécies vegetais tropicais). Estas sementes germinam na sombra, como acontece com as oportunistas, mas se desenvolvem também na sombra, desde o estágio de plântula até a fase adulta. O jacarandá da bahia (Dalbergia nigra), guarantã (Esenbeckia leiocarpa), jatobá (Hymenaea stilbocarpa), sapucaia (Lecythis pisonis), peroba (Aspidosperma polyneuron), castanha do pará (Bertholletia excelsa), palmito (Euterpe edulis), copaíba (Copaifera langsdorffii), as cabreúvas (Myroxylum spp), caviúnas (Machaerium spp) e as canelas (Nectandra spp) são alguns exemplos de espécies climácicas das florestas brasileiras.
A sucessão ecológica é um processo natural caracterizado por substituições que se sucedem em um ecossistema depois de uma perturbação natural ou antrópica, até chegar a um estágio estável, de equilíbrio. A maior parte das florestas tropicais do mundo é constituída por vegetação secundária, ou seja, em processo de sucessão ecológica, devido ao intenso ritmo de devastação das áreas de vegetação primitiva. Os exemplos mais críticos são os ecossistemas associados da Mata Atlântica, no litoral do Brasil, e as quase extintas florestas da ilha de Madagascar, na costa da África, biomas dos mais ricos em diversidade biológica do nosso planeta, mas que infelizmente encontram-se bastante perturbados e fragmentados.
A estrutura da vegetação tem grande influência no hábitat das diferentes espécies e, conseqüentemente, na composição faunística do ecossistema, sendo que hábitats diferentes abrigam espécies diferentes. Este fato pode ser constatado através das alterações na diversidade e densidade dos animais, principalmente entre as espécies mais especialistas. Cada espécie animal é dependente de certas características da vegetação e das interações biológicas que determinam onde ela poderá ou não ser encontrada. Alterações no hábitat afetam a fauna em sua diversidade e o grau de mudança está freqüentemente correlacionado com a magnitude da alteração. Qualquer diminuição na superfície de um ambiente natural pode levar a uma diminuição exponencial do número de espécies e afetar a dinâmica de populações de plantas e animais, podendo comprometer a regeneração natural e, conseqüentemente, a sustentabilidade deste ambiente.
A destruição e fragmentação de um ambiente natural, em geral, resultam na perda da biodiversidade, causando a instabilidade das populações, comunidades e ecossistemas, pois a vegetação é uma das características do meio mais importante para a manutenção dos animais. Intervenções nesse segmento do hábitat produzem efeitos diretos na fauna, pela redução, aumento ou alteração de dois atributos chaves, que são o alimento e o abrigo.
Existe uma dinâmica natural do hábitat que independe da ação humana, mas as mudanças comuns que ocorrem nos hábitats são, em geral, decorrentes de exploração sistemática com o corte das florestas, incêndios criminosos e alagamentos. O processo de sucessão ecológica que se segue aos distúrbios, caso o ambiente destruído venha a ser abandonado, resulta num mosaico de estágios sucessionais. Estes ambientes começam a ser colonizados por espécies vegetais pioneiras, que são elementos chaves na recuperação de áreas degradadas. A colonização da área perturbada por árvores é mais lenta, por causa de diversos fatores, principalmente a distância da origem das sementes, eventual dormência de algumas sementes, e ausência de animais polinizadores e dispersores, devido a modificação do hábitat. Portanto, o retorno das espécies vegetais do ambiente primário deverá ser lento.
Algumas espécies vegetais são características do ambiente florestal no estágio final da sucessão ecológica, e outras são representativas do estágio inicial ou de outro estágio intermediário. Desta forma, há um aumento do número de espécies, da diversidade e da densidade dos diversos grupos da fauna ao longo da sucessão ecológica, mas algumas exceções ocorrem onde os valores máximos são encontrados em estágios iniciais ou intermediários, e não na floresta madura.
Um determinado hábitat possui muitos micros hábitats com comunidades vegetais e animais específicas. O piso florestal, o sub-bosque, os troncos e a copa das árvores, incluindo os diferentes níveis dentro do ecossistema, contém “estratos de comunidades” especializados que podem ser definidos como subcomunidades dentro do ecossistema. As vantagens do hábitat frente às espécies vegetais como uma unidade básica de classificação dos vegetais se torna aparente quando se analisa em função da quantidade de comunidades bastante diferentes que podem ser caracterizadas pelas espécies dadas ou dentro de um grupo determinado de espécies. É a combinação do hábitat e da biota que é necessário para descrever, classificar e compreender mais significativamente o ecossistema. A influência de distúrbios na sucessão ecológica muda os níveis de recursos disponíveis e a eficiência do recrutamento de novas espécies.
As clareiras são controladoras da dinâmica das florestas tropicais, e o seu tamanho é muito importante no processo de reestabelecimento das florestas. A origem e a adição dos diferentes tamanhos de clareiras, são responsáveis pelo surgimento da organização da comunidade florestal e das muitas diferenças e coexistências entre plantas.
Repetidas queimadas podem mudar permanentemente o ambiente, que pode começar a ser dominado por espécies de gramíneas invasoras e espécies arbóreas resistentes ao fogo. Todo o processo de sucessão ecológica irá contribuir, ao longo da evolução, com a melhoria das características físicas e nutricionais do solo. A sucessão varia de acordo com diferentes composições das espécies, diversidade florística, tipo de solo, natureza e extensão das perturbações.
Para a reestruturação destes ambientes degradados, é indispensável a interação das espécies vegetais com as espécies animais. A dispersão de sementes nas florestas tropicais, por exemplo, é realizada principalmente pela interação com aves, morcegos e primatas, e denominada zoocoria. Dentro da síndrome da zoocoria existem subdivisões, quando a dispersão é realizada por peixes (ictiocoria), por répteis (saurocoria), por formigas (mirmecoria), pelos mamíferos (mamalocoria) e pelas aves (ornitocoria).
A ornitocoria é dividida em epizoocoria, sinzoocoria e endozoocoria. A epizoocoria é quando sementes que se assemelham a carrapichos são transportadas grudadas nos corpos das aves, principalmente naquelas aves que freqüentam os campos abertos, ricos em espécies herbáceas, como os pombos e as codornas. Outro método da epizoocoria, e que é mais freqüente de ser observado, é o transporte de pequenas sementes que estão presentes no barro aderido aos pés das aves aquáticas ou de paludes, como os marrecos, as garças e os socós, as saracuras e os jaçanãs. Podem ocorrer também que algumas sementes viscosas adiram ao bico e sejam redepositadas quando a ave faz a sua limpeza, esfregando o bico num galho de uma árvore.
A sinzoocoria é subdividida em diszoocoria e estomatocoria. A diszoocoria ocorre quando sementes são coletadas e armazenadas para a alimentação e posteriormente, por algum motivo são abandonadas. Esse método pode ser observado para um grande número de espécies de plantas, e é bastante conhecido o exemplo da gralha com o pinhão da araucária, das florestas do sul do Brasil. No caso da estomatocoria, ocorre que as sementes são regurgitadas pelas aves, muito comum entre os tucanos e araçaris, que regurgitam caroços de diversas palmeiras.
A endozoocoria é subdividida em acidental e sementes adaptadas. Algumas aves podem ingerir acidentalmente minúsculas sementes, quando se alimentam da polpa suculenta de um fruto, como os figos e as goiabas. Existe a ação de aves granívoras que alimentam-se de grãos, frutos secos e sementes que são freqüentemente descascadas no bico e posteriormente destruídas na moela e no estômago, mas existem muitas sementes adaptadas à ação dos sucos gástricos presentes no estômago das aves.
Tudo faz parte de um processo evolutivo. Sementes resistentes e de difícil germinação, quando ingeridas intactas, atravessam o tubo digestivo do animal, sendo eliminadas com as fezes ou regurgitadas em condições viáveis de germinação, pois o tubo digestivo dos animais é adequado para o tratamento químico e mecânico destas sementes, aumentando a eficiência da germinação das mesmas. Geralmente estas sementes possuem mucilagem lisa, o que facilita sua passagem pelo tubo digestivo do animal, sem que haja a sua destruição através da mandibulação (“mastigação”).
Em todo o mundo, milhares de espécies vegetais produzem frutos adaptados para o consumo e dispersão das sementes por animais, principalmente aves e mamíferos. Este fato é muito importante na evolução e manutenção destas espécies vegetais. Vale salientar que, quanto mais tropical uma floresta, maior a dispersão zoocórica.
A dispersão zoocórica é a mais importante no processo de manutenção e renovação das florestas tropicais. Na Floresta Amazônica, cerca de 90% das espécies vegetais têm a dispersão das sementes realizadas por animais. É um processo mutualítico, pois ambas as partes obtêm benefícios.
Dentre as inúmeras vantagens da dispersão zoocórica, está o distanciamento das sementes dos arredores da planta-mãe, onde há uma intensa predação das sementes e plântulas pelos animais granívoros e herbívoros. Também é importante a ocupação de locais diferentes e a colonização de clareiras dentro da floresta e de áreas degradadas, aumentando desta forma a representatividade da espécie vegetal através da recolonização destas áreas.
As diferentes espécies de aves frugívoras podem ser separadas em generalistas, especialistas e predadoras. As aves generalistas, como as sabiás, utilizam várias fontes como alimento além dos frutos, que são importantes fontes de água, minerais, vitaminas, carbohidratos e ácidos orgânicos. As aves especialistas, como as jacutingas, alimentam-se de frutos grandes, que se constituem numa grande reserva alimentar (estas aves são seguramente os dispersores de sementes mais eficientes). Por outro lado, as aves predadoras, como os canários, geralmente mandibulam as sementes antes de engolir, inviabilizando-as para o processo de germinação.
Teorias sobre a frugivoria e a dispersão de sementes pelas aves enfatizam que, algumas plantas produzem grande quantidade de frutos pequenos e pouco nutritivos, e por curto período de tempo, atraindo dispersores de "baixa qualidade", como as aves "generalistas", e outras plantas produzem pequeno número de frutos grandes e altamente nutritivos, e por um longo período de tempo, atraindo dispersores de "alta qualidade", como as aves "especialistas", sugerindo uma estreita co-evolução entre algumas plantas e aves consumidoras de frutos.
Os frutos ideais para a dispersão zoocórica são as bagas e sementes coloridas (vermelhas, laranjas e amarelas), como os de algumas espécies das famílias botânicas Myrtaceae (pitangas, grumixamas, cambuís, uvaias, cambucis, goiabas, guabirobas, araçás e cambucás), Melastomataceae (miconias e mouriris), Sapindaceae (camboatás e pitombas) e Rubiaceae (posoquérias e jenipás), muito requisitados por inúmeras espécies de aves, como os tangarás, saíras, sanhaços, gaturamos, tiês e anambés, espécies bastante representativas das florestas neotropicais.
Um dos grupos de aves mais importantes na dispersão de sementes é o da família dos cracídeos, representado pelos jacus, jacutingas e mutuns, pois engolem os frutos inteiros, sem mandibulá-los, e depois eliminam as sementes na defecação, juntamente com resíduos do mesocarpo e matéria orgânica fecal, fato que contribui na fixação das sementes no solo.
Outras espécies de pássaros, como os cucurutados e os sebinhos, basicamente insetívoros, apenas complementam a dieta com frutos. As sabiás e saís, possuem uma alimentação mais diversificada, à base de frutos, sementes e pequenos insetos. São alguns exemplos de aves generalistas.
Algumas espécies da avifauna, como os integrantes das famílias dos psitacídeos, como as araras, periquitos e papagaios, e dos fringilídeos, como os canários, cardeais, coleiras, curiós, pintassilgo e tico tico, geralmente predam sementes, utilizando-as na alimentação. Estes passeriformes mandibuladores de sementes são os dispersores de sementes menos eficientes, pois trituram as sementes antes de engoli-las. São porém, muito importante na dispersão de frutos com pequenas sementes, como os da embaúba, das figueiras, das ervas de passarinho e do jacatirão, pois algumas destas minúsculas sementes serão despercebidamente engolidas inteiras.
Portanto, a disseminação será mais eficaz se as sementes ou caroços não forem grandes demais ou muito resistentes, pois algumas sementes precisam sofrer processo mecânico ou químico no trato digestivo das aves para ocorrer a "quebra de dormência".
Os tucanos e araçaris se alimentam de drupas de tamanho considerável, como as de algumas palmeiras, como o açaí, butiá, palmito juçara, licuri, tucum, macaúba e jerivá. O fruto é destacado do cacho e engolido, pois é difícil a separação da semente no bico, e quando a camada suculenta (mesocarpo) é destacada, já no estômago da ave, o caroço é regurgitado, processando assim a disseminação da semente. Algumas vezes, isto ocorre distante da planta-mãe, em árvores que as aves utilizam como poleiros, o que torna a situação ainda mais interessante.
Em alguns casos, estas espécies de aves podem atuar como predadoras, quando destroem as sementes no bico, ou atuar como dispersores primários, quando derrubam grande quantidade de frutos ao redor da planta-mãe, fato muito comum entre papagaios, araras, periquitos, tucanos e araçaris. As sementes destes frutos poderão simplesmente germinar próximo da árvore mãe, ou servirão de alimento e serão dispersos por outros animais que vivem no piso da floresta, como as antas e o lobo guará, dispersores secundários.
As aves de pequeno porte têm preferência por frutos como pequenas bagas suculentas, com muita polpa, como os araçás, uvaias, pitangas, cerejas, guabirobas e joazeiros. No caso de outros tipos de frutos, como cápsulas deiscentes (que se abrem quando maduros), há uma necessidade das sementes terem atrativos, como uma coloração vistosa, ou estarem envolvidas por um arilo (membrana) de coloração atraente e contendo substância adocicada, como ocorre com as sementes da copaíba, que são envolvidas por um suculento e adocicado arilo amarelo, ou as sementes da virola ucuúba, que são envolvidas por um arilo vermelho.
Outras sementes são envolvidas por substâncias pegajosas, como estratégia para serem levadas a longas distâncias pelas aves que delas se alimentam. Muitas espécies de plantas herbáceas utilizam-se desta estratégia para a dispersão, e não é difícil observar algumas aves limpando o bico coberto de minúsculas e pegajosas sementes, em um galho de árvore.
Na construção de ninhos, algumas aves utilizam ramos de ervas com inflorescência, carregando este material no vôo, e dispersando suas sementes pelo caminho. Os frutos destas ervas também são utilizados na sua alimentação e na dos filhotes. Desta forma, inúmeras espécies de aves, como a graúna, o guaxe, a japuíra, os canários, os cardeais e os pintassilgos, contribuem com a dispersão de sementes de diversas espécies vegetais.
Numa pesquisa realizada pelo Instituto de Botânica de São Paulo, na década dos 50, encontrou-se nos papos de aves adultas da espécie macuco (Tinamus solitarius), de hábito terrícola e alimentação predominantemente vegetal, vestígios de 31 espécies vegetais. No papo de uma codorna adulta, do gênero Nothura, chegou-se a encontrar mais de duas mil sementes de plantas herbáceas, algumas indesejáveis para a agricultura (ervas daninhas), como a guanxuma, que provavelmente seriam disseminadas em outras áreas, através da defecação. Para algumas espécies de pombos observaram-se que 4% das sementes engolidas chegavam intactas ao trato digestivo, das quais 25% poderiam germinar.
Algumas espécies vegetais, durante o processo de co-adaptação, desenvolveram características para atrair os seus dispersores, como a suculência de alguns frutos. As aves possuem um fraco ou quase nenhum sentido de olfato. A sua visão, no entanto, é bastante desenvolvida, e portanto, a coloração dos frutos, sementes e arilos é bastante importante na atração das espécies ornitocóricas. No entanto, outros fatores são muito importante para o processo de ornitocoria, como o tamanho do fruto, o seu peso, a quantidade disponível, coloração, tipo, consistência, aroma, conteúdo nutritivo, razão entre semente e fruto, época de amadurecimento, sabor da polpa, disposição dos frutos e das sementes, arquitetura da copa da árvore, período de frutificação, competição e eficiência dos dispersores. Todos estes fatores representam alternativas estratégicas na disposição dos recursos reprodutivos das espécies vegetais, e também podem influir diretamente na composição dos grupos de aves que se alimentarão e dispersarão estes frutos e sementes. Os frutos adaptados para a dispersão zoocórica devem haver uma parte comestível atrativa, uma proteção externa (verde e ácida) e uma proteção interna para as sementes (substâncias tóxicas ou amargas), para que não sejam comidos prematuramente, cores atrativas ou contrastantes quando maduros (algumas aves especialistas são capazes de descobrir frutos de cor verde), e exposição das sementes, quando a casca do fruto é muito dura.
Em flores procuradas por aves polinizadoras, como os beija-flores, o vermelho predomina. Também predomina o vermelho na atração dos frutos para as aves dispersoras. Não se sabe ao certo se isso é baseado na preferência inata das aves, na melhor percepção, no melhor contraste com a folhagem ou no fato de que a combinação de cor é um sinal aprendido por associação. A segunda melhor combinação, tanto para flores como para frutos é o preto ou azul-escuro com cores claras. As espécies arbóreas do gênero Rapanea, conhecida popularmente na Mata Atlântica e nas florestas de planalto como capororoca, possuem frutos com pericarpo fino, cuja coloração arroxeada contrasta com ramos e pecíolos, sendo utilizados como alimento por dezenas de espécies de aves, que se alimentam dos frutos maduros.
A dispersão de sementes pode ser considerada como um fenômeno precursor da migração. Isto ocorre quando os frutos e sementes, uma vez disseminados, germinam e se estabelecem, crescendo e se desenvolvendo com o objetivo de colonizar novos territórios. A dispersão é um dos fatores que determinam a distribuição geográfica das plantas, e que permite a movimentação e o intercâmbio de material genético dentro e fora das populações.
A grande importância dos mecanismos de dispersão de sementes ocorre em processos de sucessão ecológica das florestas tropicais, já que a dispersão de sementes por agentes bióticos é o principal meio de chegada de sementes às áreas perturbadas, principalmente entre aquelas consideradas climácicas e de sub-bosque. Desta forma, é de fundamental importância a ação da fauna consumidora de frutos como agentes de dispersão durante a dinâmica da vegetação.

Fonte:
Fábio Rossano Dário Pisa – Itália 
http://ava.grupouninter.com.br/claroline176/claroline/learnPath/navigation/viewer.php