Bem pessoal, como iniciei minha pós-graduação em Educação Ambiental e Sustentabilidade nesta semana (Universidade Internacional de Curitiba - Uninter), gostaria de partilhar com vocês este excelente artigo que encontrei na biblioteca virtual, que infelizmente por estar fora do circuito acadêmico a maioria da população brasileira não tem acesso. Ele é um pouco extenso, mas vale a pena investir seu tempo nesta leitura, pois é um banho de preciosas informações sobre nossa rica fauna. Boa leitura! (Tatu).
26.07.2004 | Fonte de
informações: Pravda.ru
A fauna atua de forma crucial na manutenção e restauração dos ambientes naturais, principalmente nas florestas tropicais, onde cerca de 90% das espécies vegetais arbóreas têm suas flores polinizadas e suas sementes dispersas por animais (as florestas tropicais se destacam pelo grande número de espécies vegetais, muitas vezes superiores a 100 espécies arbóreas por hectare). Os principais polinizadores são as abelhas, vespas, mariposas, borboletas, besouros, morcegos e beija-flores. A dispersão das sementes está associada em muitos casos à interação com aves e mamíferos, ao que chamamos de zoocoria, e diversos levantamentos realizados em matas ciliares (matas adjacentes aos riachos, rios, lagos e nascentes), têm mostrado alta predominância de zoocoria destas espécies. Estas espécies de animais e vegetais se encontram organizadas, através de cadeias químicas alimentares, interagindo na polinização e dispersão.
A dispersão de sementes é um processo que
consiste na separação das sementes da planta-mãe indo até um local apropriado
para o seu estabelecimento, levadas pelo vento (anemocoria), pela água da chuva
ou de um curso hídrico (hidrocoria), conduzidas por algum animal (zoocoria), ou
simplesmente destacada da planta através da força da gravidade (autocoria).
Estas sementes poderão permanecer no solo por um longo período, formando o
chamado "banco de sementes". É o que acontece geralmente com as
espécies “pioneiras”, que são as primeiras árvores a se reestabelecerem em um
ambiente degradado ou numa abertura natural de clareira na floresta, ocasionada
pela morte e queda de uma ou mais árvores. O choque térmico ocasionado pela
variação da temperatura e a incidência de luz direta no solo, fará com que haja
a “quebra da dormência” destas sementes, ou seja, que se iniciem as primeiras
reações químicas fundamentais para o processo germinativo.
A estrutura, o crescimento e a sobrevivência
destas árvores são afetados de diversas formas pelo fator iluminação. A
fotossíntese é afetada pela quantidade e qualidade da luz. As durações do dia e
da noite são outros fatores que influenciam no desenvolvimento destas árvores,
cujo principal objetivo é a cobertura imediata do solo, proteção da camada
superficial de matéria orgânica existente, e dar início ao processo conhecido
como “sucessão ecológica”, até o reestabelacimento da floresta.
As espécies arbóreas pioneiras mais conhecidas no
Brasil são o capixingui (Croton floribundus), bracatinga (Mimosa scabrella),
sangra d'água (Croton urucurana), tapiá (Alchornea triplinervia), candiúba
(Trema micrantha), gravitinga (Solanum spp), manacá da serra (Tibouchina
mutabilis), jacatirão (Miconia spp), capororoca (Rapanea ferruginea), as
embaúbas (Cecropia spp), as pindaíbas (Xylopia spp), todas com características
muito semelhantes, de grande exigência por luz, rápido crescimento e ciclo de
vida curto (muitas vezes menos de 10 anos). A dispersão das sementes destas
árvores é geralmente feita por animais (cerca de 74% das espécies vegetais
tropicais), pois possuem geralmente frutos carnosos, frutificação precoce,
abundante e quase que o ano todo.
Algumas sementes podem de imediato iniciar o
processo germinativo, formando o "banco de plântulas", o que acontece
com as espécies arbóreas conhecidas como “oportunistas”, pois estas
permanecerão por determinado tempo em estágio de plântula, até um momento
oportuno para o seu desenvolvimento, como uma abertura de clareira na floresta,
com a queda de uma árvore, que fará com que haja maior incidência de luz no
interior da floresta, o que favorecerá o seu desenvolvimento. As sementes das
árvores oportunistas germinam na sombra, mas estas necessitam de luz para se
desenvolverem.
As espécies oportunistas possuem um ciclo de vida
mais longo, e sucedem as pioneiras, mas ao contrário destas, possuem um maior
número de espécies, sendo que muitas destas têm a dispersão das sementes feita
pelo vento. Mesmo assim, a dispersão zoocórica neste grupo ainda é bastante
elevada (cerca de 69% do total das espécies). A maioria das espécies arbóreas
tropicais fazem parte deste grupo, como o açoita cavalo (Luehea divaricata),
dedaleiro (Lafoensia pacari), canafístula (Peltophorum dubium), pau brasil
(Caesalpinia echinata), paineira (Chorisia speciosa), os cedros (Cedrela spp),
araribás (Centrolobium spp), angicos (Anadenanthera spp), guatambus
(Aspidosperma spp), embiruçus (Eriotheca spp), jequitibás (Cariniana spp) e os
coloridos ipês (Tabebuia spp), muito comuns dos cerrados e das florestas
brasileiras.
Ainda existe o grupo das espécies arbóreas
“climácicas”, que fazem parte do último estágio da sucessão ecológica. Estas
espécies possuem crescimento lento, porte elevado (ocupam o estrato mais alto
da floresta, conhecido como dossel, com árvores atingindo até 60m de altura),
são longevas (algumas árvores conseguem viver por mais de 200 anos), e possuem
sementes geralmente grandes e com dormência, e por isso a sua dispersão por
aves e mamíferos é muito importante (cerca de 85% do total das espécies
vegetais tropicais). Estas sementes germinam na sombra, como acontece com as
oportunistas, mas se desenvolvem também na sombra, desde o estágio de plântula
até a fase adulta. O jacarandá da bahia (Dalbergia nigra), guarantã (Esenbeckia
leiocarpa), jatobá (Hymenaea stilbocarpa), sapucaia (Lecythis pisonis), peroba
(Aspidosperma polyneuron), castanha do pará (Bertholletia excelsa), palmito
(Euterpe edulis), copaíba (Copaifera langsdorffii), as cabreúvas (Myroxylum
spp), caviúnas (Machaerium spp) e as canelas (Nectandra spp) são alguns
exemplos de espécies climácicas das florestas brasileiras.
A sucessão ecológica é um processo natural
caracterizado por substituições que se sucedem em um ecossistema depois de uma
perturbação natural ou antrópica, até chegar a um estágio estável, de
equilíbrio. A maior parte das florestas tropicais do mundo é constituída por
vegetação secundária, ou seja, em processo de sucessão ecológica, devido ao
intenso ritmo de devastação das áreas de vegetação primitiva. Os exemplos mais
críticos são os ecossistemas associados da Mata Atlântica, no litoral do
Brasil, e as quase extintas florestas da ilha de Madagascar, na costa da
África, biomas dos mais ricos em diversidade biológica do nosso planeta, mas
que infelizmente encontram-se bastante perturbados e fragmentados.
A estrutura da vegetação tem grande influência no
hábitat das diferentes espécies e, conseqüentemente, na composição faunística
do ecossistema, sendo que hábitats diferentes abrigam espécies diferentes. Este
fato pode ser constatado através das alterações na diversidade e densidade dos
animais, principalmente entre as espécies mais especialistas. Cada espécie
animal é dependente de certas características da vegetação e das interações
biológicas que determinam onde ela poderá ou não ser encontrada. Alterações no
hábitat afetam a fauna em sua diversidade e o grau de mudança está
freqüentemente correlacionado com a magnitude da alteração. Qualquer diminuição
na superfície de um ambiente natural pode levar a uma diminuição exponencial do
número de espécies e afetar a dinâmica de populações de plantas e animais,
podendo comprometer a regeneração natural e, conseqüentemente, a
sustentabilidade deste ambiente.
A destruição e fragmentação de um ambiente
natural, em geral, resultam na perda da biodiversidade, causando a
instabilidade das populações, comunidades e ecossistemas, pois a vegetação é
uma das características do meio mais importante para a manutenção dos animais.
Intervenções nesse segmento do hábitat produzem efeitos diretos na fauna, pela
redução, aumento ou alteração de dois atributos chaves, que são o alimento e o
abrigo.
Existe uma dinâmica natural do hábitat que
independe da ação humana, mas as mudanças comuns que ocorrem nos hábitats são,
em geral, decorrentes de exploração sistemática com o corte das florestas,
incêndios criminosos e alagamentos. O processo de sucessão ecológica que se
segue aos distúrbios, caso o ambiente destruído venha a ser abandonado, resulta
num mosaico de estágios sucessionais. Estes ambientes começam a ser colonizados
por espécies vegetais pioneiras, que são elementos chaves na recuperação de
áreas degradadas. A colonização da área perturbada por árvores é mais lenta,
por causa de diversos fatores, principalmente a distância da origem das
sementes, eventual dormência de algumas sementes, e ausência de animais
polinizadores e dispersores, devido a modificação do hábitat. Portanto, o
retorno das espécies vegetais do ambiente primário deverá ser lento.
Algumas espécies vegetais são características do
ambiente florestal no estágio final da sucessão ecológica, e outras são
representativas do estágio inicial ou de outro estágio intermediário. Desta
forma, há um aumento do número de espécies, da diversidade e da densidade dos
diversos grupos da fauna ao longo da sucessão ecológica, mas algumas exceções
ocorrem onde os valores máximos são encontrados em estágios iniciais ou
intermediários, e não na floresta madura.
Um determinado hábitat possui muitos micros
hábitats com comunidades vegetais e animais específicas. O piso florestal, o
sub-bosque, os troncos e a copa das árvores, incluindo os diferentes níveis
dentro do ecossistema, contém “estratos de comunidades” especializados que
podem ser definidos como subcomunidades dentro do ecossistema. As vantagens do
hábitat frente às espécies vegetais como uma unidade básica de classificação
dos vegetais se torna aparente quando se analisa em função da quantidade de
comunidades bastante diferentes que podem ser caracterizadas pelas espécies
dadas ou dentro de um grupo determinado de espécies. É a combinação do hábitat
e da biota que é necessário para descrever, classificar e compreender mais
significativamente o ecossistema. A influência de distúrbios na sucessão
ecológica muda os níveis de recursos disponíveis e a eficiência do recrutamento
de novas espécies.
As clareiras são controladoras da dinâmica das
florestas tropicais, e o seu tamanho é muito importante no processo de reestabelecimento
das florestas. A origem e a adição dos diferentes tamanhos de clareiras, são
responsáveis pelo surgimento da organização da comunidade florestal e das
muitas diferenças e coexistências entre plantas.
Repetidas queimadas podem mudar permanentemente o
ambiente, que pode começar a ser dominado por espécies de gramíneas invasoras e
espécies arbóreas resistentes ao fogo. Todo o processo de sucessão ecológica
irá contribuir, ao longo da evolução, com a melhoria das características
físicas e nutricionais do solo. A sucessão varia de acordo com diferentes
composições das espécies, diversidade florística, tipo de solo, natureza e
extensão das perturbações.
Para a reestruturação destes ambientes
degradados, é indispensável a interação das espécies vegetais com as espécies
animais. A dispersão de sementes nas florestas tropicais, por exemplo, é
realizada principalmente pela interação com aves, morcegos e primatas, e
denominada zoocoria. Dentro da síndrome da zoocoria existem subdivisões, quando
a dispersão é realizada por peixes (ictiocoria), por répteis (saurocoria), por
formigas (mirmecoria), pelos mamíferos (mamalocoria) e pelas aves
(ornitocoria).
A ornitocoria é dividida em epizoocoria,
sinzoocoria e endozoocoria. A epizoocoria é quando sementes que se assemelham a
carrapichos são transportadas grudadas nos corpos das aves, principalmente
naquelas aves que freqüentam os campos abertos, ricos em espécies herbáceas,
como os pombos e as codornas. Outro método da epizoocoria, e que é mais
freqüente de ser observado, é o transporte de pequenas sementes que estão
presentes no barro aderido aos pés das aves aquáticas ou de paludes, como os
marrecos, as garças e os socós, as saracuras e os jaçanãs. Podem ocorrer também
que algumas sementes viscosas adiram ao bico e sejam redepositadas quando a ave
faz a sua limpeza, esfregando o bico num galho de uma árvore.
A sinzoocoria é subdividida em diszoocoria e
estomatocoria. A diszoocoria ocorre quando sementes são coletadas e armazenadas
para a alimentação e posteriormente, por algum motivo são abandonadas. Esse
método pode ser observado para um grande número de espécies de plantas, e é
bastante conhecido o exemplo da gralha com o pinhão da araucária, das florestas
do sul do Brasil. No caso da estomatocoria, ocorre que as sementes são
regurgitadas pelas aves, muito comum entre os tucanos e araçaris, que
regurgitam caroços de diversas palmeiras.
A endozoocoria é subdividida em acidental e
sementes adaptadas. Algumas aves podem ingerir acidentalmente minúsculas
sementes, quando se alimentam da polpa suculenta de um fruto, como os figos e
as goiabas. Existe a ação de aves granívoras que alimentam-se de grãos, frutos
secos e sementes que são freqüentemente descascadas no bico e posteriormente
destruídas na moela e no estômago, mas existem muitas sementes adaptadas à ação
dos sucos gástricos presentes no estômago das aves.
Tudo faz parte de um processo evolutivo. Sementes
resistentes e de difícil germinação, quando ingeridas intactas, atravessam o
tubo digestivo do animal, sendo eliminadas com as fezes ou regurgitadas em
condições viáveis de germinação, pois o tubo digestivo dos animais é adequado
para o tratamento químico e mecânico destas sementes, aumentando a eficiência
da germinação das mesmas. Geralmente estas sementes possuem mucilagem lisa, o
que facilita sua passagem pelo tubo digestivo do animal, sem que haja a sua
destruição através da mandibulação (“mastigação”).
Em todo o mundo, milhares de espécies vegetais
produzem frutos adaptados para o consumo e dispersão das sementes por animais,
principalmente aves e mamíferos. Este fato é muito importante na evolução e
manutenção destas espécies vegetais. Vale salientar que, quanto mais tropical
uma floresta, maior a dispersão zoocórica.
A dispersão zoocórica é a mais importante no
processo de manutenção e renovação das florestas tropicais. Na Floresta
Amazônica, cerca de 90% das espécies vegetais têm a dispersão das sementes
realizadas por animais. É um processo mutualítico, pois ambas as partes obtêm
benefícios.
Dentre as inúmeras vantagens da dispersão
zoocórica, está o distanciamento das sementes dos arredores da planta-mãe, onde
há uma intensa predação das sementes e plântulas pelos animais granívoros e
herbívoros. Também é importante a ocupação de locais diferentes e a colonização
de clareiras dentro da floresta e de áreas degradadas, aumentando desta forma a
representatividade da espécie vegetal através da recolonização destas áreas.
As diferentes espécies de aves frugívoras podem
ser separadas em generalistas, especialistas e predadoras. As aves
generalistas, como as sabiás, utilizam várias fontes como alimento além dos
frutos, que são importantes fontes de água, minerais, vitaminas, carbohidratos
e ácidos orgânicos. As aves especialistas, como as jacutingas, alimentam-se de
frutos grandes, que se constituem numa grande reserva alimentar (estas aves são
seguramente os dispersores de sementes mais eficientes). Por outro lado, as
aves predadoras, como os canários, geralmente mandibulam as sementes antes de
engolir, inviabilizando-as para o processo de germinação.
Teorias sobre a frugivoria e a dispersão de
sementes pelas aves enfatizam que, algumas plantas produzem grande quantidade
de frutos pequenos e pouco nutritivos, e por curto período de tempo, atraindo
dispersores de "baixa qualidade", como as aves
"generalistas", e outras plantas produzem pequeno número de frutos
grandes e altamente nutritivos, e por um longo período de tempo, atraindo
dispersores de "alta qualidade", como as aves "especialistas",
sugerindo uma estreita co-evolução entre algumas plantas e aves consumidoras de
frutos.
Os frutos ideais para a dispersão zoocórica são
as bagas e sementes coloridas (vermelhas, laranjas e amarelas), como os de
algumas espécies das famílias botânicas Myrtaceae (pitangas, grumixamas,
cambuís, uvaias, cambucis, goiabas, guabirobas, araçás e cambucás),
Melastomataceae (miconias e mouriris), Sapindaceae (camboatás e pitombas) e
Rubiaceae (posoquérias e jenipás), muito requisitados por inúmeras espécies de
aves, como os tangarás, saíras, sanhaços, gaturamos, tiês e anambés, espécies
bastante representativas das florestas neotropicais.
Um dos grupos de aves mais importantes na
dispersão de sementes é o da família dos cracídeos, representado pelos jacus,
jacutingas e mutuns, pois engolem os frutos inteiros, sem mandibulá-los, e
depois eliminam as sementes na defecação, juntamente com resíduos do mesocarpo
e matéria orgânica fecal, fato que contribui na fixação das sementes no solo.
Outras espécies de pássaros, como os cucurutados
e os sebinhos, basicamente insetívoros, apenas complementam a dieta com frutos.
As sabiás e saís, possuem uma alimentação mais diversificada, à base de frutos,
sementes e pequenos insetos. São alguns exemplos de aves generalistas.
Algumas espécies da avifauna, como os integrantes
das famílias dos psitacídeos, como as araras, periquitos e papagaios, e dos
fringilídeos, como os canários, cardeais, coleiras, curiós, pintassilgo e tico
tico, geralmente predam sementes, utilizando-as na alimentação. Estes
passeriformes mandibuladores de sementes são os dispersores de sementes menos
eficientes, pois trituram as sementes antes de engoli-las. São porém, muito
importante na dispersão de frutos com pequenas sementes, como os da embaúba,
das figueiras, das ervas de passarinho e do jacatirão, pois algumas destas
minúsculas sementes serão despercebidamente engolidas inteiras.
Portanto, a disseminação será mais eficaz se as
sementes ou caroços não forem grandes demais ou muito resistentes, pois algumas
sementes precisam sofrer processo mecânico ou químico no trato digestivo das
aves para ocorrer a "quebra de dormência".
Os tucanos e araçaris se alimentam de drupas de
tamanho considerável, como as de algumas palmeiras, como o açaí, butiá, palmito
juçara, licuri, tucum, macaúba e jerivá. O fruto é destacado do cacho e
engolido, pois é difícil a separação da semente no bico, e quando a camada
suculenta (mesocarpo) é destacada, já no estômago da ave, o caroço é
regurgitado, processando assim a disseminação da semente. Algumas vezes, isto ocorre
distante da planta-mãe, em árvores que as aves utilizam como poleiros, o que
torna a situação ainda mais interessante.
Em alguns casos, estas espécies de aves podem
atuar como predadoras, quando destroem as sementes no bico, ou atuar como
dispersores primários, quando derrubam grande quantidade de frutos ao redor da
planta-mãe, fato muito comum entre papagaios, araras, periquitos, tucanos e
araçaris. As sementes destes frutos poderão simplesmente germinar próximo da
árvore mãe, ou servirão de alimento e serão dispersos por outros animais que
vivem no piso da floresta, como as antas e o lobo guará, dispersores
secundários.
As aves de pequeno porte têm preferência por
frutos como pequenas bagas suculentas, com muita polpa, como os araçás, uvaias,
pitangas, cerejas, guabirobas e joazeiros. No caso de outros tipos de frutos,
como cápsulas deiscentes (que se abrem quando maduros), há uma necessidade das
sementes terem atrativos, como uma coloração vistosa, ou estarem envolvidas por
um arilo (membrana) de coloração atraente e contendo substância adocicada, como
ocorre com as sementes da copaíba, que são envolvidas por um suculento e
adocicado arilo amarelo, ou as sementes da virola ucuúba, que são envolvidas
por um arilo vermelho.
Outras sementes são envolvidas por substâncias
pegajosas, como estratégia para serem levadas a longas distâncias pelas aves
que delas se alimentam. Muitas espécies de plantas herbáceas utilizam-se desta
estratégia para a dispersão, e não é difícil observar algumas aves limpando o
bico coberto de minúsculas e pegajosas sementes, em um galho de árvore.
Na construção de ninhos, algumas aves utilizam
ramos de ervas com inflorescência, carregando este material no vôo, e
dispersando suas sementes pelo caminho. Os frutos destas ervas também são
utilizados na sua alimentação e na dos filhotes. Desta forma, inúmeras espécies
de aves, como a graúna, o guaxe, a japuíra, os canários, os cardeais e os
pintassilgos, contribuem com a dispersão de sementes de diversas espécies
vegetais.
Numa pesquisa realizada pelo Instituto de
Botânica de São Paulo, na década dos 50, encontrou-se nos papos de aves adultas
da espécie macuco (Tinamus solitarius), de hábito terrícola e alimentação
predominantemente vegetal, vestígios de 31 espécies vegetais. No papo de uma
codorna adulta, do gênero Nothura, chegou-se a encontrar mais de duas mil
sementes de plantas herbáceas, algumas indesejáveis para a agricultura (ervas
daninhas), como a guanxuma, que provavelmente seriam disseminadas em outras
áreas, através da defecação. Para algumas espécies de pombos observaram-se que
4% das sementes engolidas chegavam intactas ao trato digestivo, das quais 25%
poderiam germinar.
Algumas espécies vegetais, durante o processo de
co-adaptação, desenvolveram características para atrair os seus dispersores,
como a suculência de alguns frutos. As aves possuem um fraco ou quase nenhum
sentido de olfato. A sua visão, no entanto, é bastante desenvolvida, e
portanto, a coloração dos frutos, sementes e arilos é bastante importante na
atração das espécies ornitocóricas. No entanto, outros fatores são muito
importante para o processo de ornitocoria, como o tamanho do fruto, o seu peso,
a quantidade disponível, coloração, tipo, consistência, aroma, conteúdo
nutritivo, razão entre semente e fruto, época de amadurecimento, sabor da
polpa, disposição dos frutos e das sementes, arquitetura da copa da árvore,
período de frutificação, competição e eficiência dos dispersores. Todos estes
fatores representam alternativas estratégicas na disposição dos recursos
reprodutivos das espécies vegetais, e também podem influir diretamente na
composição dos grupos de aves que se alimentarão e dispersarão estes frutos e
sementes. Os frutos adaptados para a dispersão zoocórica devem haver uma parte
comestível atrativa, uma proteção externa (verde e ácida) e uma proteção
interna para as sementes (substâncias tóxicas ou amargas), para que não sejam
comidos prematuramente, cores atrativas ou contrastantes quando maduros
(algumas aves especialistas são capazes de descobrir frutos de cor verde), e
exposição das sementes, quando a casca do fruto é muito dura.
Em flores procuradas por aves polinizadoras, como
os beija-flores, o vermelho predomina. Também predomina o vermelho na atração
dos frutos para as aves dispersoras. Não se sabe ao certo se isso é baseado na
preferência inata das aves, na melhor percepção, no melhor contraste com a
folhagem ou no fato de que a combinação de cor é um sinal aprendido por
associação. A segunda melhor combinação, tanto para flores como para frutos é o
preto ou azul-escuro com cores claras. As espécies arbóreas do gênero Rapanea,
conhecida popularmente na Mata Atlântica e nas florestas de planalto como
capororoca, possuem frutos com pericarpo fino, cuja coloração arroxeada
contrasta com ramos e pecíolos, sendo utilizados como alimento por dezenas de
espécies de aves, que se alimentam dos frutos maduros.
A dispersão de sementes pode ser considerada como
um fenômeno precursor da migração. Isto ocorre quando os frutos e sementes, uma
vez disseminados, germinam e se estabelecem, crescendo e se desenvolvendo com o
objetivo de colonizar novos territórios. A dispersão é um dos fatores que
determinam a distribuição geográfica das plantas, e que permite a movimentação
e o intercâmbio de material genético dentro e fora das populações.
A grande importância dos mecanismos de dispersão
de sementes ocorre em processos de sucessão ecológica das florestas tropicais,
já que a dispersão de sementes por agentes bióticos é o principal meio de
chegada de sementes às áreas perturbadas, principalmente entre aquelas
consideradas climácicas e de sub-bosque. Desta forma, é de fundamental
importância a ação da fauna consumidora de frutos como agentes de dispersão
durante a dinâmica da vegetação.
Fonte:
Fábio Rossano Dário Pisa – Itália http://ava.grupouninter.com.br/claroline176/claroline/learnPath/navigation/viewer.php
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